terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Gerald’s game ou Jogo Perigoso.


Adaptação do conto de King para a telinha pela Netflix em 2017 causou um certo estranhamento aos amantes do mestre do horror, e não por motivos fúteis. Não é de hoje que viramos a cara pra essas adaptações e a Netflix tem focado em historias do King (que é rei até no nome), depois de "O Nevoeiro" todo mundo meio que broxou e se não broxou é por que não assistiu a triste adaptação do conto pra serie (que aparentemente não voltará para uma segunda temporada).

Contudo vamos ao que interessa: Gerald’s Game ou Jogo Perigoso
O livro original foi publicado em 1992, mas, no Brasil ele só chegou no ano de 2000 pela editora Objetiva.  E nessa adaptação a Netflix foi bastante fiel e nos deu um filme cheio de referencias a outros contos do mestre.

Gerald e Jessie Burlingame (Bruce Grenwood e Carla Gugino) são um casal que está passando por uma turbulência no casamento e por isso decidem se distanciar de tudo e de todos na sua casa de campo durante o fim de semana. Para Gerald isso não é apenas um fim de semana para salvar seu casamento e ele já tem tudo planejado.  Gerald é um homem mais velho, um advogado bem sucedido, um homem educado, mas, é misógino, falocêntrico e um homem cheio de fetiches.  Jessie é a esposa dedicada que aprendeu a agradar o marido seja lá no que for preciso. E para salvar seu casamento ela está ainda mais disposta e não pensa muito quando o marido propõe um joguinho sexual.


Gerald algema a esposa na cama (com algemas de verdade) e põe a chave em cima da pia do banheiro enquanto pega um copo d’água pra tomar um remédio.  É ai onde o jogo começa a dar muito errado. Jessie se vê algemada na cama, sem comida ou água, sem bateria no celular que não está perto, sem poder pedir ajuda por vários motivos, os vizinhos mais próximos não ouviram seus gritos e mesmo assim sabemos que eles não estão em casa, os empregados estão de folga a pedido de Gerald e ela teme pela sua segurança caso seja encontrada algemada a cama e vulnerável  por um estranho, mas, nada disso se compara ao medo que ela sente do cachorro faminto que está agora dentro da casa. Não está sendo fácil para Jessie, e tudo vai piorar, no meio do desespero a mente dela começa a projetar figuras que hora ajudam a resolver problemas, mas, também instigam seus piores pesadelos e libertam seus maiores medos.  É um filme claustrofóbico. É bastante sufocante em certos momentos e difícil de assistir em outros.

(SPOILER ALERT) (SPOILER ALERT) (SPOILER ALERT) (SPOILER ALERT) (SPOILER ALERT) (SPOILER ALERT)

O filme tem um lugar mais sombrio do que imaginamos quando começamos a aprender mais sobre o passado da nossa prisioneira solitária.
Jessie foi exposta a um pai misógino ainda muito jovem, que aos doze anos abusou dela durante um eclipse e depois continuou com isso a fazendo acreditar que a culpa era dela, e que sua mãe ficaria desapontada caso ela contasse alguma coisa. Por medo de levar a culpa (claro por que a culpa é sempre da vitima) e medo de que ele fizesse o mesmo com sua irmãzinha, Jessie guarda o segredo do pai, algo que ela nunca contou nem mesmo ao seu marido, que mesmo sem imaginar dos traumas da esposa, sadicamente começa a se impor chamando a si próprio de “papai” e desencadeia essas lembranças sombrias deixando-a assustada como da primeira vez.
As referencias das quais falamos aparecem ao longo do filme, mas, nem sempre é possível identificá-las, se você não leu os livros. Nosso cãozinho necrófilo é sem sobra de duvidas uma referencia ao Cujo (Livro de 1981 e Adaptado para o cinema em 1983) e Temos  The Space Cowboy que aparece primeiro como a manifestação do medo de Jessie, logo em seguida em momentos diferentes vemos a representação física dele, mas, só durante a leitura da carta que ela escreve a uma das vozes na sua mente que acaba por ser ela mesma quando criança, fica explicado quem  é Gilbert (Crypt Creeper) que mais tarde foi preso quando deixou de violar cadáveres e tentou cortar a orelha de um homem em seu quarto em quanto ele dormia. E que talvez por violar apenas homes, Gilbert tenha poupado lhe a vida. Mais tarde quando vai ao julgamento, Gilbert repete as palavras dela e isso nos dá a certeza de que ele esteve sim naquele quarto durante aquelas duas noites.

Num livro seguinte (Eclipse Total - Dolores Claiborne) vamos ouvir sobre Dolores, que tem uma conexão mental com Jessie e que descobrimos que esteve lá durante o assedio durante o eclipse e durante a agressão do marido e as algemas nas noites que passou naquele quarto.  A priori esses que são agora dois livros seriam apenas um volume chamado: "In the Path of the Eclipse" ("Na trajetória do eclipse"). E que o prefacio já explicava essa conexão entre as duas personagens.



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