quarta-feira, 5 de setembro de 2018

666 - O Limiar do Inferno

Essa semana um debate sobre “como formar leitores” acendeu uma curiosidade pessoal. Eu não venho de uma família de leitores (inclusive bem longe disso) e pra falar a verdade até hoje eu encaro olhares meio tortos do povo de casa por gostar e dedicar tanto tempo a leitura. E pra ser bem sincera o que torna esse “estranho hábito” ainda pior é o meu fascínio por literatura de horror/terror/slasher - o que pra mim não era uma coisa fácil de explicar- sempre que converso com meus amigos leitores eles tem uma historinha fofa de como ganharam o seu primeiro livro e eu nunca contei como eu cheguei ao meu primeiro livro inclusive por que é um livro nada ortodoxo para uma criança. Então hoje eu resolvi falar sobre o meu primeiro livro - 666 o limiar do inferno (1981) de Jay Anson - Sim, eu era uma criança e esse foi o meu primeiro contato com a literatura de horror e com livros (não didáticos) de um modo geral. Então, acontece que eu já ia pra escola de ônibus aos 11 e na volta sempre fazia o retorno (o caminho mais longo) pra ficar mais tempo no ônibus com os meus amigos e passávamos por um senhor que vendia livros (ainda vende, tem reportagens sobre tio Eduardo no jornal) e ele sempre jogava alguns pra dentro do ônibus e eu nunca conseguia um livro por ser uma garota raquítica, um dia o ônibus parou e ele conseguiu dar na minha mão um livro super velho e destruído que por sorte a minha ninguém mais quis pegar e por isso eu ganhei. o Eduardo não sabe disso mas esse foi o meu primeiro contato com a leitura de um livro não escolar. Mesmo quando leio desde os quatro anos. 

666 O limiar do inferno conta a história do casal Keith e Jennifer que ao voltar de uma curta viagem de férias percebe um casarão vitoriano completamente novo nos fundos de sua casa. Tal casarão foi transportado para lá durante as curtas férias (Pra ficar melhor explicado, era uma casa que estava num terreno que antes estava vazio, esse, eles eram vizinhos de porta dos fundos, e em outro momento da história Keith explica melhor como se deu o transporte de uma casa inteira para um lugar completamente novo). Já a partir da primeira visita de Keith a casa coisas estranhas começam a acontecer, como a maneira que ele consegue acesso a ela inclusive. Com o passar dos dias camiões e vens vem fazer serviços estranha casa e isso alimenta a curiosidade de Keith, que por acaso descobre sobre seu passado sombrio em um jornal velho que trazia apenas a metade da notícia.

Acontece que por curiosidade Keith decide investigar a casa e descobre mais sua história trágica - Um dono original da casa teria matado a amante e o cunhado ali mesmo - Esse era o mesmo homem que ele tinha lido no pedaço de jornal que chegou até sua casa por pura coincidência (será?). Keith descobre que um velho amigo estava encarregado de alugar a velha casa e decide obter mais informações sobre ela, o que só lhe traz mais dúvidas, e aquela sensação de estar entrando em algo do qual não pode sair fácil. Enquanto isso David (um amigo do casal) procura suas próprias respostas sobre algo que Keith encontrou na sua visita/invasão a casa. 

A narrativa acontece em volta de Keith, Jennifer e David, o que vem a ser uma espécie de triângulo amoroso disforme, e quando você menos espera o sobrenatural é inserido na trama se tornando quase um quarto personagem 

Anson é nesse livro o meu ponto de chegada quando se trata de escrita, ele simplesmente não se detém no desnecessário, a escrita dele vem lenta, mas, crescente até se tornar profunda e então rápida até alcançar o clímax final, o narrador vem tecendo a narrativa através do pensamento e das percepções dos três personagens envolvidos mais a casa, O que eu percebi também, é que nem os personagens sabem a história toda, sempre alguém esconde algo deles que nós leitores sabemos mas eles nunca vão descobrir. Primeiro Anson vem trazendo um thriller de terror psicológico, narrando acontecimentos inexplicáveis, e envolvendo o leitor numa curiosidade gigante, então tornando a narrativa mais rápida ele aparenta estar dando algumas respostas quando na verdade está criando um suspense ainda maior em torno da casa, que a essa altura já atua sozinha como um dos personagens principais e assim chegando a um desenlace fantástico e super satisfatório (claro que isso é a minha opinião pessoal). Talvez em 2018 não faça muito sentido por ser um tema saturado lá nos anos 60/70, mas, algo diabólico está claramente por trás dos acontecimentos. 

(Pra quem não sabe Anson é o autor de Horror em Amityville [1977] que ainda não escrevi nada sobre por que gosto mais desse aqui)


PS: Pedi a um amigo Jornalista pela reportagem sobre o Livreiro do ponto de ônibus. Quando receber eu posto nos comentários!

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