
Em A desconhecida somos apresentados a aparente família perfeita de Heidi Wood, seu marido Chris e sua filha pré-adolescente Zoe que vivem uma vida estável em Chicago. Heidi é uma humanitária nata, e levou isso para a ONG onde trabalha com a capacitação de refugiados, pobres, imigrantes e sem tetoa. Do lado oposto o seu marido trabalha em um escritório chic de fusões e aquisições, é um financista em ascensão e não esconde o motivo de trabalhar em uma grande corporação: o dinheiro. Os dois entendem e tentam lidar com as mudanças diárias de humor de Zoe que tem doze anos e está na fase de odiar tudo e todos. Diariamente Heidi lida com os problemas dos menos favorecidos, mas, até onde pode ir sua generosidade?
Nós vamos conhecer também uma garota, frágil e com medo do mundo, escondida atrás de uma carapuça forte, intransigente e suja, mas, que está desesperada a ponto de fazer coisas absurdas para se salvar e aqueles que ela ama. Willow Greer traz nos braços cansados a pequena Ruby, um bebê tão adorável quanto sujo, que ela não larga e protege a todo custo. Qual a sua história? De onde Willow Greer vem ou por que ela está ali parada no meio da estação Furlleton sob as chuvas de inverno de uma cidade como chicago? Ninguém se pergunta ou mesmo nota a garota fétida que se abriga nas estações de trems suspensos. Até que Heidi com seu coração grande não suporta mais ver as duas paradas, encharcadas, famintas, cansadas e toma uma medida paliativa, primeiro um jantar e algum dinheiro para que elas pudessem passar a noite relativamente, mas o fantasma da culpa de não ter feito mais pelas duas crianças que conheceu não a deixou. Então quando Chris e Zoe menos esperavam eles tinham outras duas pessoas a mesa. Heidi convidou Willow e Ruby para sua casa, e com isso, começamos a conhecer a desconhecida. Apesar de Heidi trabalhar com os menos favorecidos isso não parecia afetar Chris e muito menos a jovem Zoe. E o que parecia estar sob controle no casamento dos dois estava prestes a se revelar não tão sob controle assim.
Mary Kubica traça um perfil de cada um desses personagens com maestria deixando para nós leitores atentos, pequenas pistas do que está de fato acontecendo com cada um deles. Pois nem tudo o que você lê é o que é de fato, não nesse livro. E as vidas de Heidi, Chris, Zoe, Willow e até mesmo a da pequena Ruby estão mudando radicalmente, e rapidamente, mais para alguns do que para outros.
Em um livro onde cada personagem narra a sua própria história, as histórias de Heidi e Chris geralmente batem, eles têm muito em comum e não é raro perceber que uma começa onde a outra termina ou dois pontos de vista diferentes do mesmo referencial. Isso é claro, não se aplica a história contada por Willow, essa onde conhecemos alguns outros personagens, como a pequena Lily e a Lily grande com suas cartas e fotografias e seu marido Paul, seus pais adotivos (de quem ficaremos com nojo eterno) Mirian e Joseph e seus irmãos adotivos Isaac e Mathew. Até que ponto se pode usar a religião contra uma criança de dez anos? Kubica surpreende o leitor com suas descrições assustadoras de uma infância roubada e constrói o livro de maneira que possamos conhecer a fundo cada um dos personagens, o que inicialmente torna o livro cansativo, o nosso primeiro contato causa o completo estranhamento ao que estamos lendo. As interrupções nos deixam com a sensação de que nada daquilo está ou vai de alguma forma fazer sentido, e é isso que nos prende, cada página que avançamos é mais um mistério que temos que resolver. Não é o simples de onde vem e para onde está indo. Quando a jovem Willow Greer começa a fazer sentido, entramos num labirinto de emoções, e em vários pontos tentamos convencer a nós mesmos de que não faríamos nada diferente de Heidi, então começamos a concordar com as desconfianças de Chris, e percebemos os motivos para o comportamento de Willow. Entretanto: até que ponto nós nos exporíamos ou as pessoas que amamos a um completo estranho? Mesmo que esse estranho tenha a aparência de Willow segurando a pequena Ruby.
As respostas são mais surpreendentes do que as questões que o romance nos traz.
Você sabia que não existe uma palavra que rima com nuvem? o irmão de Willow sabia. Ele também tinha outras várias informações inúteis as quais passava para ela quando eles ainda moravam em Omaha a única coisa que a fez suportar aquela casa por tanto tempo.
O livro é surpreendente e vai te fazer refletir sobre várias questões, como casamento, família, lealdade, amor, generosidade entre outros sentimentos que afloram durante a leitura. Se essa leitora entusiasmada pode deixar uma dica: Ao final da leitura, pergunte a si mesmo: Quem era a desconhecida?